quinta-feira, 1 de maio de 2008

O assassinato do motoboy

Márcio Calafiori

Que saudade do Pena Branca. O Pena Branca era o Octávio Ribeiro, o maior repórter policial que o Brasil já teve. Ele era tão bom que a sua trajetória profissional inspirou a criação de um antigo seriado da Rede Globo, o Plantão de Polícia.
Em novembro de 1984, quando mataram o também repórter policial Mário Eugênio, do Correio Braziliense, quem o jornal contratou para esclarecer o assassinato? O Pena Branca, lógico! Ele resolveu o caso em dez dias ou duas semanas, não me lembro bem. O assassinato de Mário Eugênio fora encomendado por um coronel do Exército. Moral da história: o Correio Braziliense fez questão de ir além da investigação oficial.
Se o Pena Branca estivesse vivo — ele morreu em 1986 — e trabalhando no caso do motoboy Firmino Barbosa, assassinado com 11 tiros pelo promotor do Ministério Público de São Paulo, Pedro Bacarat Guimarães Pereira, no início de janeiro, em São Paulo, com certeza já teria desvendado o crime. Para variar, a imprensa está esperando a investigação oficial. Isso põe em cheque o seu comodismo em não investigar, em não trazer à luz, com ênfase, todas as contradições que cercam a versão do promotor.

Ele portava uma pistola automática 9 milímetros, arma de uso restrito das Forças Armadas. Antes do assassinato, na companhia da namorada Regiane Zampar, também promotora, Pedro Bacarat comprou uma camisa social para presentear um de seus três irmãos (segundo a revista Veja, dois deles são delegados de polícia e um terceiro, juiz). Depois de atingir mortalmente o motoboy Firmino, que não estava armado, Bacarat ligou para os seus irmãos policiais e, em seguida, avisou um amigo da promotoria.
Os cinco relógios que teriam sido roubados por Firmino, em outros assaltos, só apareceram depois que ele foi levado para o hospital. Pedro Bacarat matou-o porque o motoboy teria tentado lhe tomar o relógio, fingindo que estava armado. Ou seja, o motoboy já tinha “roubado” cinco relógios e ia “roubar” mais um. Durante o protesto da semana passada que os motociclistas fizeram contra o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que quer impedi-los de trafegar nas marginais Pinheiros e Tietê, a mãe do motoboy disse mais uma vez: “O meu filho não era bandido”. Ao que parece ela prega para os bichos que habitam o deserto.
Até agora, o que mais se fala a respeito do assassinato do motoboy é que não pode haver pré-julgamento. Mas pára aí: pré-julgamento para quem? Firmino Barbosa, que era casado há oito anos, tinha um filho de 7 e cuja viúva está grávida, não possuía passagem pela polícia. Só virou ladrão depois de ser assassinado com 11 tiros. Portanto, impedido de dar a sua versão. Democracia implica também igualdade de direitos. E de opinião. No Brasil, a democracia funciona para poucos. Por falar nisso: tem algum Pena Branca por aí?

Publicado no jornal Boqueirão em 26 de janeiro de 2008.

Um comentário:

Unknown disse...

Conheci esse promotor em Ribeirão Pires, ele é a melhor pessoa que já vi, justo e sensato....impossivel ele ter feito de ruindade e querer se safar disso atraves dos irmãos....
Agora o bandido virou vitima foi!!!!!!!