Márcio Calafiori
Meu pai costuma dizer palavras que ninguém diz. Uma delas é inapetente. Ouvi-a pela primeira um dia na hora do almoço. Foi quando minha mãe ordenou que eu não saísse da mesa sem antes comer tudo.
— Se ele está inapetente, não o obrigue a comer! — disse meu pai.
— Ele precisa se alimentar!
— O alimento só faz bem quando apetece.
— Nunca ouvi falar disso. Caso contrário, não obrigariam os doentes a comer — ela insistiu.
Aí então o meu pai encerrou a conversa, dizendo a ela:
— Abstenha-se!
E logo em seguida, dirigindo-se a mim:
— Pode se retirar da mesa. Mas não te ponhas qual um corcel fogoso!
Gosto de ler em voz alta os comentários que ele escreve em meu caderno da escola quando a professora propõe o debate de algum tema em sala de aula. Certa vez o tema proposto foi: “Devemos ou não dar esmola?”.
Levei-lhe a questão e meu pai então ditou-me o seguinte texto como resposta: “O óbolo humilha quem recebe e avilta o caráter de quem dá”.
Li isso na classe em voz alta, orgulhoso.
Ontem eu estava no banheiro e minha tia, em cuja casa estou passando as férias, bateu na porta:
— Vais demorar muito?
— Não, tia, tô acabando de defecar!
— O quê?...
— Tô acabando de defecar!...
Quando saí do banheiro, ela me disse:
— Enquanto estiveres aqui em casa fala como gente, tá?
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
46.
Márcio Calafiori
Comprou o apartamento financiado e agora briga na Justiça com o banco por causa das prestações, superiores ao reajuste do salário de militar reformado. Enquanto a mulher cozinha, ele bebe o vinho tinto de garrafão. De repente:
— Já sei!... Vou pesquisar uma substância que me deixe como morto. Aí então tu apresentas o atestado de óbito ao banco e quita-se a dívida. Depois eu ressuscito, levanto do túmulo!...
A mulher:
— Gostei do plano... Menos da parte em que tu ressuscitas.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
5.
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