terça-feira, 24 de junho de 2008

Mimi, o Metalúrgico

Márcio Calafiori

Em 1973, Mimi, o Metalúrgico, de Lina Wertmuller, foi retirado às pressas de cartaz em todo o território nacional. No domingo à noite, na Cinelândia, eu podia ter visto qualquer outro filme, mas calhou de ser Mimi. Foi uma escolha aleatória. Na segunda-feira, o professor de História do Ginásio Estadual do Gonzaga comentou a proibição. Não entendi bem, mas levantei a mão, pedindo permissão para falar:
— Vi esse filme ontem!
— Não acredito!...
— Vi Mimi, sim! Ontem à noite, na sessão das oito.
Ele me convidou então para contar à classe as minhas impressões sobre a obra.
— Ver Mimi foi a maior moleza! — comecei dizendo. — O porteiro do Cine Roxy nem desconfiou da minha carteirinha falsificada!
O professor me interrompeu e referiu-se ao conteúdo político do filme. Respondi:
— Político?... Mimi não tem nada de político! É comédia pura! Um dos filmes mais engraçados que já vi na vida! O senhor precisava ver a cara do Mimi, principalmente quando ele tenta acertar a mulher dele com uma faca, porque ela o traiu com um cara. Que cena! Que cena!...
Paciente, o professor propôs:
— Vamos ver a questão por outro lado... Você acha engraçado alguém trair e ser traído? Será que não existe aí uma simbologia política?
— É porque o senhor não viu o filme! É só comédia. Tem uma hora em que o Mimi leva uma gorda imensa pra cama e o bundão dela enche toda a tela do cinema!
Mimi!... De repente, o herói da classe — em guarda contra o professor de História.

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