Márcio Calafiori
Quando minha mãe ia embora,
o meu choro explodia,
vindo de uma essência incontrolável.
Depois, tudo me distraia:
os animais pastando,
o espinho que percorria a carne,
a casinha do joão-de-barro,
a laranja-de-umbigo,
a bosta das vacas,
os chapéus-de-cobra,
a casa das abelhas,
o cemitério,
a estação do trem,
a sanga,
o ônibus a caminho de Jaguarão,
as tardes mornas em que eu pulava a janela
para furar os bolos de Maria Beiró.
Eu corria atrás de seu Belinho,
implorando para que não matasse o porco
O porco era meu amigo!
Mas seu Belinho metia a faca:
o porco gritava me dizendo adeus.
Às vezes, a chuva me impedia de sair
ou então só quando a geada derretesse.
No alto do cerro morava uma velha...
Negra Rosa botava a chaleira para o mate
Vovó batia as claras para o merengue
Tia Mimosa conversava com o rádio
O gaúcho passava a cavalo...
À noite, na saleta do casarão,
Eu ouvia a voz da minha mãe:
vinha como de um balde atirado à cacimba...
Na parede, o lampião iluminava os retratos
Homens e mulheres de olhares antigos,
Todos mortos!
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Um comentário:
Que bonito Calafiori, fiquei com saudade de casa, daquela que nem existe mais.
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