sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Saudade

Márcio Calafiori


Quando minha mãe ia embora,

o meu choro explodia,

vindo de uma essência incontrolável.


Depois, tudo me distraia:

os animais pastando,

o espinho que percorria a carne,

a casinha do joão-de-barro,

a laranja-de-umbigo,

a bosta das vacas,

os chapéus-de-cobra,

a casa das abelhas,

o cemitério,

a estação do trem,

a sanga,

o ônibus a caminho de Jaguarão,

as tardes mornas em que eu pulava a janela

para furar os bolos de Maria Beiró.


Eu corria atrás de seu Belinho,

implorando para que não matasse o porco

O porco era meu amigo!

Mas seu Belinho metia a faca:

o porco gritava me dizendo adeus.


Às vezes, a chuva me impedia de sair

ou então só quando a geada derretesse.

No alto do cerro morava uma velha...

Negra Rosa botava a chaleira para o mate

Vovó batia as claras para o merengue

Tia Mimosa conversava com o rádio

O gaúcho passava a cavalo...



À noite, na saleta do casarão,

Eu ouvia a voz da minha mãe:

vinha como de um balde atirado à cacimba...

Na parede, o lampião iluminava os retratos

Homens e mulheres de olhares antigos,

Todos mortos!

Um comentário:

Unknown disse...

Que bonito Calafiori, fiquei com saudade de casa, daquela que nem existe mais.